Sustentabilidade, tecnologia e investimentos andam juntos na construção de uma economia mais forte e inclusiva na visão das principais instituições bancárias do país
Na abertura da 33ª edição da Febraban Tech 2023, um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do setor financeiro, líderes das principais instituições financeiras do Brasil participaram de um debate sobre o atual cenário nacional, com destaque para os desafios e os impactos da bioeconomia, da agenda ESG e da sociedade digital.
Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), enviou uma mensagem por vídeo aos participantes ressaltando que os bancos têm papel importante para tornar o país mais competitivo. “Os bancos, em conjunto com Banco Central, já alcançaram conquistas importantes, como PIX, que se tornou referência no mundo todo”, disse. Ele destacou outra iniciativa recente: a aproximação do BNDES com a Febraban a fim de conceber uma política de crédito alinhada às necessidades de consumo do Brasil.
Para Isaac Sidney, presidente da Febraban, o setor bancário vem forjando há algum tempo a ponte entre passado, presente e futuro em termos de inovação. “Somos tradicionais, mas também inovadores. O futuro dos bancos tradicionais envolve trabalho e não aventura, sempre tivemos ações mais concretas e menos falatório”, afirmou o executivo.
Entre as inovações de sucesso, ele citou o PIX que ganha cada vez mais força. “Não é à toa que vamos descontinuar ferramentas como o DOC a partir de 2024”, disse Sidney. “A transformação digital vai continuar com Open Finance e o real digital. Já na agenda ESG, queremos ter papel relevante na economia verde”, afirmou o executivo, citando iniciativas como maior rigidez do financiamento bancário em áreas de conservação ambiental e terras indígenas.
Avanços em ESG
O Brasil é dono da maior biodiversidade de flora e fauna do planeta. Com esse potencial, é possível sair na frente na pauta ESG e no desenvolvimento da bioeconomia. O setor bancário tem avançado nesse sentido, como destacaram os líderes.
Maria Rita Serrano, presidente da Caixa Econômica Federal, contou que o banco incluiu a sustentabilidade no seu planejamento estratégico. “Não existe nenhuma dicotomia entre sustentabilidade e investimento. A questão da bioeconomia e descarbonização são oportunas e convergentes”, afirmou. Segundo ela, a instituição vem adaptando as soluções financeiras alinhadas às questões ESG. “Sistema financeiro tem papel fundamental no avanço digital, num mundo mais inclusivo que respeita o meio ambiente”.
Milton Maluhy, presidente do Itaú Unibanco, afirmou que não basta a iniciativa isolada de um banco em termos de sustentabilidade e descarbonização. “Todos precisam andar no mesmo ritmo e direção”. Ele citou várias iniciativas da empresa, que é net zero nas emissões de escopo 1 e 2 e, com a assinatura do Net-Zero Banking Alliance, se compromete a reduzir as emissões, principalmente as de escopo 3. Até 2025 a empresa tem o objetivo de apoiar os clientes estruturando o mercado de capitais em setores de impacto positivo. Além disso, o Cubo, hub de inovação do Itaú Unibanco, criou uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento tecnológico de startups que oferecem soluções de ESG.
Na visão de Octavio de Lazari, diretor-presidente do Bradesco, o ESG é um tema bastante discutido atualmente, mas é preciso olhar com profundidade para o tema. “Cada banco já tem a consciência da bioeconomia e precisa melhorar isso a cada dia”, afirmou. Em relatório divulgado recentemente, a empresa indicou as ações que se compromete a fazer, principalmente na área de energia, como compensação de carbono das agências e implantação de usinas de painéis solares. “Estamos motivados nesse desafio da bioeconomia e ESG”.
Já Mario Leão, CEO do Santander Brasil, fez uma participação online reforçando que “agenda climática é só uma”. Ele contou que o Santander possui uma agenda de sustentabilidade com um olhar para tecnologia e para o investidor, além das metas de descarbonização. “Estamos apenas começando, pois ESG é um grande desafio para os próximos 20 anos. No Santander, ESG é um tema da empresa, do CEO e de todo o grupo”.
Nessa evolução, Roberto Sallouti, CEO do BTG Pactual, acredita que, nos próximos anos, o ESG será incorporado como algo normal aos negócios dos bancos – que já têm maturidade nesse tema. O BTG Pactual, por exemplo, faz a gestão de ativos florestais na América do Norte e do Sul. Um das iniciativas prevê plantar 200 milhões de árvores, entre floresta nativa (que será preservada e destinada à venda de crédito de carbono) e floresta comercial (na qual a madeira produzida será destinada para produção industrial, mas o carbono ficará preservado).
Um futuro mais verde e digital
Uma pesquisa da Febraban, divulgada em maio, aponta que o investimento destinado à tecnologia bancária no Brasil deverá chegar a R$ 45,1 bilhões em 2023, um aumento de 29% em relação a 2022. De fato, os líderes dos bancos afirmaram que se preparam para absorver e tirar proveito das inovações tecnológicas, como Inteligência Artificial Generativa, computação quântica e cloud, para acelerar os negócios.
“A transformação digital começou ao longo dos anos, o que mudou foi a velocidade”, afirmou Maluhy. Segundo ele, dois terços dos sistemas legados do Itaú-Unibanco foram modernizados, com arquitetura nova e rodando em nuvem. A inovação também ocorreu na forma de trabalho, pois a companhia abraçou a metodologia ágil com equipes trabalhando em squads, e a cultura centrada no cliente com apoio da tecnologia. “Isso mudou a dinâmica do banco”.
A dobradinha tecnologia e sustentabilidade deve render novas oportunidades na visão de Maria Rita, da Caixa. “Se várias funções acabaram com a digitalização, outras ocupações surgem na economia verde. Existem vários caminhos para gerar riqueza e os bancos têm de fomentar esses projetos para um Brasil melhor e mais inclusivo”.
Embora o Brasil tenha enfrentado vários desafios econômicos em sua história, construiu um sistema financeiro forte e resiliente, na opinião de Octavio de Lazari, do Bradesco. “O sistema financeiro brasileiro teve capacidade de construir algo sólido e não deixa grandes preocupações. Isso é um aspecto positivo para economia nacional, mas também estamos num momento que precisamos aproveitar a oportunidade de buscar a redução de taxa de juros, melhorar o arcabouço fiscal e fazer a reforma tributária”, disse. Ele acredita que o país possui várias vantagens competitivas, como a matriz energética limpa, além de estar no radar dos investidores estrangeiros.