Banco Central prepara novidades para o PIX e instituições financeiras avançam no desenvolvimento dos sistemas de pagamentos eletrônicos com o apoio da tecnologia
Ele é a forma de pagamento que conquistou o bolso dos brasileiros. Lançado em 2020, o PIX encerrou 2022 com mais de 24 bilhões de transações, uma média de 66 milhões de operações diárias. Para se ter uma ideia, as transações nessa modalidade superam as de cartão de débito, boleto, TED, DOC e cheques, e continuam em ascensão, segundo dados da Febraban.
Um debate realizado no primeiro dia da Febraban Tech 2023 mostrou os caminhos do PIX e dos sistemas de pagamentos eletrônicos na esteira do conceito de cashless economy, a economia sem dinheiro físico.
O sucesso do PIX vem contribuindo para o desenvolvimento das operações digitais e inclusão financeira no país. Mayara Yano, assessora sênior no Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central do Brasil, afirmou que o PIX foi responsável pela digitalização dos pagamentos, servindo como porta de entrada para o uso de outros meios de pagamento digitais. “As pessoas estão diante de um novo universo: 71 milhões de brasileiros que antes não faziam transações eletrônicas agora são usuários do PIX”, disse. Esse movimento também foi positivo levando em consideração que os pagamentos em espécie geram alto custo para o país e para a sociedade.
Cristina Gouveia, diretora de TI do Itaú Unibanco, aponta outros benefícios do PIX, como a inclusão e bancarização da população de menor renda. Além disso, o PIX quebrou a barreira do tempo: por ser 24 x 7 e instantâneo, caiu no gosto de pagadores e recebedores. Não é preciso esperar o dia seguinte para concluir a operação. E ainda levou a uma mudança de hábito, pois as pessoas estão perdendo o costume de sacar dinheiro. “O PIX traz uma reflexão para os bancos olharem como podem atender melhor o cliente”, afirmou Cristina.
“O Pix mudou o patamar. O Banco Central mirou pequeno e atingiu o mundo com o PIX”, disse Graziela Pellecchia, head de Pagamento Instantâneo do Bradesco.
De um meio de pagamento para um ecossistema
Na visão de Patricia Sousa, diretora de Digital Platforms & Commercial Cards do Citi, o PIX já faz parte da vida das pessoas, mas isso é só o começo. “Temos toda uma jornada que começa a ser criada agora. De um meio de pagamento, o PIX será transformado em um ecossistema entre pessoas e empresas”, disse.
De fato, o Banco Central prepara algumas novidades. Mayara contou que o PIX já nasceu arrojado e com uma agenda de evolução clara. “A visão de futuro é usar o PIX para qualquer situação de pagamento ou transferência. Mas temos outras possibilidades previstas. A agenda 2023 é desenvolver o PIX Automático para viabilizar os pagamentos recorrentes mediante autorização prévia do usuário. É diferente do débito automático, porque será um ambiente aberto para vários tipos de empresas, como academias e serviços de streaming”, explicou. A previsão é lançar o PIX Automático em abril de 2024.
Outro projeto do Banco Central é o PIX Internacional, que interliga o sistema instantâneo de diversos países por meio de uma plataforma para fazer operações de câmbio, liquidação ou interações bilaterais. “Estamos estudando essas possibilidades. É preciso adotar padrões internacionais e APIs para facilitar isso no futuro”, explicou Mayara.
PF descobre o PIX
Se a adesão das pessoas físicas ao PIX foi rápida, no caso das empresas foram necessárias algumas adaptações, como contou Patricia, do Citi. “O B2C precisou adaptar suas plataformas para permitir transferências mais rápidas. Plataformas de e-commerce e varejista vieram primeiro, depois utilities e concessionárias. O boleto com PIX tem tido uma adesão interessante”, afirmou.
Já no B2B, que tem volume transacional maior, a decisão de entrar no PIX leva mais tempo, segundo a executiva. “Mas veremos o crescimento nesse segmento também”, disse.
Em relação aos pequenos e médios negócios, eles aderiram ao PIX num primeiro momento se beneficiando das funcionalidades disponíveis para pessoa física, principalmente com o uso de QR Code. “O PIX Automático é crítico para PME que usa todo o portfólio de recebíveis para conseguir crédito”, analisou Patricia.
Cashless e contactless
Na economia cashless, o digital traz simplicidade, segurança e velocidade para os clientes. Para as empresas, pode gerar novos negócios e oportunidades. É por isso que os bancos têm esse tema no radar impulsionadas pelo PIX. “A tecnologia bancária está avançando bastante e é importante respeitar o que PIX prega: segurança e rapidez. A biometria também avança bastante nesse sentido. Outra tecnologia é o QR Code, que pode ser mais bem usado no B2B. A IA pode ser usada para personalização e conciliação de pagamentos para ajudar o dia a dia dos clientes. E o próximo ponto de inflexão é a moeda digital, todos os Bancos Centrais estão tateando isso”, resumiu Cristina Gouveia, diretora de TI do Itaú Unibanco.
A tecnologia é a grande aliada para promover uma jornada sem fricção e uma economia cashless, na visão de Graziela Pellecchia, do Bradesco. Mas não é só isso. “Migramos todo o processo do banco para metodologia ágil, senão não teríamos conseguido colocar o PIX em pé em tão pouco tempo”, contou.
Adicionar camadas de tecnologia para reforçar a questão da segurança também é fundamental. “No PIX e em transações eletrônicas em geral, precisamos ter mecanismos robustos antes e durante a transação, desde o onboarding na abertura de conta, biometria e biometria facial para PIX no celular, usar IA para conhecer o comportamento do cliente, e geolocalização, por exemplo. E, após as transações, garantir atendimento nos canais adequados caso seja vítima de uma fraude”, afirmou Mayara. Segundo ela, outro desafio é investir na educação dos usuários (afinal muitos usam serviços digitais há pouco tempo) para tornar as transações eletrônicas mais seguras.