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Empresas lançam sementes da transformação social

23 jan. 2024
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Novo modelo corporativo guiado pelo ESG traz nova uma visão para questões sociais dentro das empresas, que precisam sair do discurso e criar ações efetivas

Nos últimos tempos, a responsabilidade social corporativa passou por mudanças significativas, acompanhando o novo modelo corporativo que tem o ESG como norte. Inclusão, diversidade e equidade hoje estão mais presentes no dia a dia das organizações. No mercado financeiro não é diferente e a pauta social ganha relevância considerando as necessidades dos diversos stakeholders – lideranças, funcionários, clientes, parceiros e comunidades. 

No terceiro e último do Febraban Tech 2023, o painel “O compromisso social como dever” reuniu esses diferentes agentes que estão colaborando para lançar uma semente de transformação.

“Diversidade é convidar para a festa, inclusão é chamar para dançar!”. A frase de Vernā Myers, executiva na Netflix, tem inspirado Glaucimar Peticov, Diretora-Executiva e CCO do Bradesco, na construção de ações mais conectadas às atuais preocupações que envolvem o “S” do ESG.

“Precisamos quebrar os preconceitos que nos acompanham há muito tempo. O Brasil é o palco ideal para chamar as pessoas para dançar. Aliás, cada um pode escolher a música que quer dançar, ou seja, fazer as escolhas na sua carreira, por exemplo”, afirmou.

Para ela, as empresas precisam eliminar o estilo de comando e controle e serem mais inspiracionais. Além disso, criar, de fato, um ambiente plural e que acolha as diferenças, porque são elas que vão impulsionar a inovação tão necessária para desenvolver os negócios. “Precisamos construir uma consciência mais cidadã”, afirmou a executiva do Bradesco.

“Diversidade é respeitar a cultura de cada local onde estamos presentes”, afirmou José Ricardo Sasseron, Vice-Presidente de Governo e Sustentabilidade Empresarial do Banco do Brasil. Segundo ele, isso não se aplica apenas aos funcionários, mas aos clientes pessoas físicas e corporativos de todos os portes – do pequeno ao grande agricultor, por exemplo. Cada grupo tem as suas características e necessidades específicas.

De acordo com Sasseron, o banco possui 42% das mulheres nos níveis mais baixos de liderança. A meta é levar essas profissionais para os cargos mais altos nos próximos anos. Ele citou ainda outras ações internas do Banco do Brasil, a exemplo do comitê executivo de diversidade para combater a discriminação, em especial do público LGBTQIA+, para mostrar que é preciso aceitar as pessoas como elas são.

Já Cristina Pinho, Membro do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), contou que a entidade possui um programa por meio do qual estimula as organizações a terem mulheres pretas sem seus conselhos. “Isso é importante porque existe um viés na sociedade que desqualifica as mulheres e, por isso, elas não estão representadas nas lideranças. As empresas precisam, primeiro, identificar esses vieses e depois partir para a ação”. 

Com um fala sincera e potente, Preto Zezé afirmou que todos têm a responsabilidade para eliminar os preconceitos arraigados no país. “É preciso parar de achar que as pautas de cada grupo [negros, mulheres, LGBTS, etc.] são um problema apenas desses grupos. Precisamos virar essa chave. A luta é de todos”. 

Segundo ele – que é uma das maiores lideranças das favelas brasileiras e que esteve à frente da Central Única das Favelas (CUFA) até março de 2023, produtor artístico e musical e conselheiro de várias empresas, inclusive bancos – é preciso avançar na agenda social, que muitas vezes vira um jogo de empurra-empurra dentro da empresa e com poucas ou tímidas ações concretas.

Do relatório para a prática

De que forma as organizações podem tirar as intenções do papel e transformá-las em ações efetivas?

“Não há um único caminho, mas vários”, afirmou Glaucimar, do Bradesco. “Mas isso leva tempo, o resultado não é rápido porque estamos falando de uma mudança de comportamento, de mindset”. Nesse sentido, o Bradesco tem investido na capacitação da equipe, com treinamentos via universidade corporativa, para aprimorar competências comportamentais. Segundo ela, é fundamental que a empresa identifique o que precisa fazer e para onde ir na pauta social, e depois desenhar esses caminhos. “Não pode deixar isso solto, senão nada acontece”. 

Sasseron conta que o fato de o Banco do Brasil ter uma mulher na presidência e quatro na vice- presidência é uma maneira da alta administração dar o exemplo para toda a companhia. Segundo ele, muitos funcionários do banco se auto-organizaram em grupos e o banco têm apoiado e dado visibilidade a essas iniciativas.  São grupos de pessoas negras, LGBT e mulheres, por exemplo. “Inclusive o grupo das mulheres é liderado pela nossa vice-presidente de tecnologia”.  

Para Cristina, do IBGC, as companhias precisam incorporar, na sua matriz de risco, o risco de não ter um ambiente de diversidade.

Sementes da transformação 

Para fora dos muros da empresa, Tatiana Monteiro de Barros, Fundadora do Movimento União BR, contou que várias organizações  têm se engajado no apoio efetivo às causas sociais de maneiras diferentes. O Movimento União BR faz a ponte entre quem precisa e quem deseja ajudar, especialmente em situações emergenciais, como no caso da pandemia e catástrofes naturais. A entidade não recebe doações em dinheiro, apenas em produtos.

A entidade já recebeu apoio de grandes indústrias e bancos para, por exemplo, levar usinas de oxigênio para Manaus na pandemia, distribuir geladeiras e fogões para as pessoas afetadas pelas fortes chuvas no litoral paulista ou direcionar parte dos funcionários para consertar o ar-condicionado de um hospital. “É preciso escutar o que as comunidades precisam. Muitas empresas ainda pensam apenas em doar cestas básicas, mas nem toda comunidade tem esse tipo de necessidade. É preciso estar conectado com quem está na ponta, quem vai receber ajuda”, alertou. 

“Hoje somos desafiados a fazer a mudança. Por isso chega de falar das desgraças e vamos construir pontes para discutir como mudar. Acredito que podemos fazer um Brasil melhor”, disse Preto Zezé.