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Bancos aceleram a migração para cloud

29 jun. 2023

Executivos compartilharam estratégias e aprendizados essenciais para tirar proveito da nuvem. Investimento não é apenas em tecnologia, mas também uma mudança cultural.

A tecnologia tem papel fundamental para impulsionar o dia a dia dos bancos e promover a experiência para o cliente. Nesse cenário, a atuação dos CIOs ganha cada vez mais protagonismo na estratégia das organizações. No segundo dia do Febraban Tech 2023, um painel – com moderação de Marisa Reghini Ferreira Mattos, Vice-Presidente de Negócios Digitais e Tecnologia do Banco do Brasil –, reuniu executivos dos principais bancos do país para discutir seu papel, oportunidades e temas quentes de tecnologia. 

Ricardo Guerra, CIO do Itaú Unibanco, falou sobre as habilidades importantes na função. “Sempre foi necessário ter domínio técnico, mas hoje é preciso estar ainda mais aberto para novos aprendizados, porque a tecnologia avança muito rápido. Hoje é diferente a forma de codificar e de trabalhar dados, por exemplo. É preciso usar mais GPU do que CPU”, afirmou. 

Outra mudança relevante que os profissionais de TI estão passando é a necessidade de estarem mais próximos do cliente e aplicar os conhecimentos tecnológicos para resolver problemas de negócios.

“Isso não é tão óbvio. Antes o profissional de TI recebia um pedido e precisava fazer, mas hoje ele é influenciador, é líder para trabalhar em equipe e desenvolver os projetos. A cada ano aumenta a necessidade de incorporar novas skills, como competências de negócios”, disse Guerra.

Luis Bittencourt, CIO do Santander Brasil e CEO da F1RST Digital Services, concorda com essa mudança de perspectiva sobre a área de TI, que já foi considerada  “commodity”, mas hoje está no centro dos negócios das empresas.

“O CIO e toda liderança têm de ser habilitadores de todas as áreas de negócios, que não conseguem traçar estratégias e atender clientes sem tecnologia. Hoje tecnologia e negócios são uma coisa só”. 

Já Edilson Reis, CIO e Diretor-Executivo do Bradesco, destacou a importância de os executivos fomentarem a inovação e apontarem caminhos alternativos para a tecnologia encurtar prazos de entrega. “Fizemos uma pesquisa interna que mostrou que as diversas áreas da empresa esperam agilidade da área de tecnologia”, afirmou. 

As questões de gênero também rondam com mais frequência a área de tecnologia. “A participação feminina no mercado de TI ainda é muito pequena, mas há um movimento de expansão nos últimos anos”, disse Adriana Salgueiro, Vice-Presidente de Tecnologia e Digital da Caixa Econômica Federal. Para ela, as organizações precisam avançar nas políticas de diversidade e equidade de gênero para gerar mais oportunidades em posições de liderança. É preciso ter mais referências femininas – como as atuais presidentes da Caixa e do Banco do Brasil – para inspirar e incentivar as mulheres. “Essa não é uma luta individual, mas coletiva” 

Open Finance

Outro tema discutido entre os CIOs foi o Open Finance, que não tem sido um desafio trivial. 

“Estamos superando as diversas etapas de implementação. Mas é um modelo completamente diferente do que estávamos acostumados. Estamos conhecendo muito melhor o cliente e isso requer estruturação de negócio e de tecnologia diferentes. O aprendizado leva tempo, mas o Open Finance veio para ficar”, disse Ricardo Guerra, do Itaú. 

Reis, do Bradesco, contou que o principal desafio foi – e continua sendo –  tecnológico, especialmente em relação à interoperabilidade. “Mas estamos indo num caminho bom do ponto de vista da tecnologia”, afirmou. Outro obstáculo a ser vencido é mostrar claramente para o cliente os benefícios de compartilhar seus dados pessoais. “Isso ainda não aconteceu. A taxa de renovação de consentimento no mercado ainda está em 4%. Precisamos encontrar o caminho para gerar valor para o cliente”.

Cloud é outro tema desafiador para os executivos. Christian Flemming, CTO e COO do BTG Pactual, compartilhou a experiência da empresa de criar um banco digital 100% na nuvem. Entre os desafios, disse o executivo, foi preciso uma “virada de chave” de infraestrutura e desenvolvimento, segurança de dados e custos, que podem ser reduzidos desde que a nuvem seja usada com proficiência. “A nuvem agrega valor e traz escalabilidade. É uma mudança de patamar da indústria financeira”, afirmou.

IA Generativa no centro do debate

A IA Generativa chegou para mudar o jogo dos negócios e é assunto presente nas conversas dos executivos, que também estão aprendendo sobre riscos e oportunidades. 

“O mundo vai se transformar com IA Generativa, que pode ser algo positivo, mas também trazer algumas questões desconfortáveis. Por outro lado, estamos no lugar certo, na área de tecnologia, vivendo esse momento incrível”, afirmou Bittencourt, do Santander. Para ele, IA Generativa vai habilitar as pessoas a serem mais produtivas.

“Diversas funções vão surgir a partir do momento em que a IA começar a fazer trabalho de humanos. A partir desse escopo teremos oportunidade para gerar conteúdos de texto, vídeo e códigos, que são os usos mais óbvios. Precisaremos descobrir outros usos capazes de impactar a experiência do cliente”, disse Guerra, do Itaú.

Para Adriana, da Caixa, a IA Generativa vai desafiar as estruturas dos bancos. “Ainda não temos muita dimensão do que vai acontecer, mas podemos alavancar as possibilidades de uso da AI Generativa no relacionamento com cliente, hiperpersonalização e oferta de serviços digitais. Temos ainda possibilidades de parcerias, com marketplaces, por exemplo, na jornada e centralidade dos clientes. A IA vai se disseminar nas organizações, com foco em eficiência nas áreas de negócio e tecnologia”.  No entanto, afirmou, o uso massificado desse tipo de solução gera pontos de atenção em relação ao vazamento de dados e limites da propriedade intelectual. “Mas esses receios tendem a diminuir com o tempo”.

“O ser humano nunca vai deixar de ser o capitão. Ganhamos um aliado poderoso com a IA Generativa para criar inovação. Ainda estamos arranhando a superfície do que é possível fazer com essa tecnologia”, destacou Flemming, do BTG Pactual.

O aprendizado no Bradesco, um dos pioneiros a usar Inteligência Artificial com a BIA, indica que, com o tempo, a criatividade se torna mais importante que o conhecimento técnico. “Até então era preciso ter hard skills para lidar com as tecnologias. Mas hoje com linguagem natural, por exemplo, é muito mais fácil, todo mundo entende. Com a IA Generativa, profissões serão repensadas e nós teremos que trabalhar de forma diferente para atender as novas expectativas do cliente. O futuro está cada vez mais próximo e já estamos dentro disso”, afirmou Reis, do Bradesco, lembrando que é preciso estar atento também às questões éticas.